E de
carta em carta... as areias do tempo vão escoando... olho para meus dedos
magrelos... eles já não são os mesmos... Frágeis a cada escrita... olho para
meus olhos... às vezes quase não os vejo... olho para meu rosto já palidamente
esbranquiçado... noto, com certo susto, que envelheci... Olho para as cartas,
que meus olhos já não podem ler... olho para meu rosto, que o espelho não consegue perceber... Olho para dentro de mim... e no meu
coração, ainda está você... Vem uma criança e, correndo, derruba o único porta
retrato na mesinha de meu quarto... Ouço cacos caírem... Era onde eu guardava o
teu último retrato... Ah! Mas que importa uma imagem no papel... Se te tenho na
minha memória... Pois sempre te imaginei comigo... Até sonhei algumas vezes...
Eu sempre via nós dois brincando, sorrindo, falando... e caminhando lado a
lado... Mas chorei, quando ouvi quebrar aquele porta retrato... Ocorreu
justamente no dia do teu aniversário... Hoje, aos oitenta anos, sinto cada vez
mais saudades de tudo... e fico a pensar como teria sido... nunca saberei, mas
eu sinto muitas saudades do beijo que não te dei...
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